29 de dez. de 2010

Textos MIB - Passagem das Horas

  • Passagem das Horas

Não sei sentir... 
Não sei ser humano... 
Não sei conviver dentro da alma triste com os homens, meus irmãos na terra. 
Não sei ser útil, mesmo sentindo ser prático... cotidiano... e nítido. 
Vi todas as coisas e maravilhei-me de tudo, mas tudo sobrou ou foi pouco, não sei qual e eu... sofri. 
Eu vivi todas as emoções, todos os pensamentos, todos os gestos e fiquei tão triste como se tivesse querido vivê-los e não conseguisse. 
Amei e odiei como toda gente, mas para toda gente isso foi normal... e instintivo. 
Para mim sempre foi a exceção, o choque, a válvula, o espasmo. 
Não sei se a vida é pouco ou demais para mim, não sei se sinto demais ou de menos. 
Seja, como for, a vida de tão interessante que é a todos os momentos, ... a vida chega a doer, a enjoar, a roçar, a ranger, a dá vontade de dar pulos, de cair no chão, de sair para fora de todas as casas, de todas as lógicas de todas as sacadas, e ir ser selvagem entre árvores ... e esquecimentos.


Álvaro de Campos (um dos pseudônimos de Fernando Pessoa)

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