20 de mai. de 2014

A história do garoto que construía moinhos de ventos

  • Uma atitude que mudou sua vida e de sua pequena comunidade

William Kamkwamba vivia com seus pais em Masitala, uma pequena aldeia a 2 horas da capital de Malawi, em uma casinha de pau-a-pique sem água corrente nem luz, e na mais absoluta pobreza. 

Até que o garoto de 14 anos, que tinha abandonado a escola por falta de pagamento, decidiu fazer seu próprio futuro e construiu com suas próprias mãos e lixo reciclado um pequeno moinho de vento que mudaria sua aldeia para sempre. Esta é a história de um fascinante projeto e suas mediáticas conseqüências.

William nasceu em 5 de agosto de 1987 em um dos países mais pobres e densos da África: Malawi. Com 13 milhões de habitantes, a maioria roçando a extrema pobreza, tem uma taxa de 14% de infecção por HIV e uma expectativa de vida próxima aos 43 anos. O problema fundamental do país é a necessidade de importar, quase em sua totalidade, todos os bens e energias de consumo, dispensando ao país uma dívida externa progressiva que lhe impede crescer e se desenvolver para sair de sua condição de extrema pobreza.


William compartilhava o casebre com seis irmãos e seus pais; ajudava nas tarefas do cultivo de fumo e em qualquer biscate que gerasse rendimentos à família. Sem luz nem água corrente, as caras velas de parafina iluminavam sua casinha ao cair do sol dia após dia; quando os recursos eram suficientes para comprá-las no armazém que ficava a oito quilômetros de distância.

Apesar de não ser escolarizado, William tinha vontade de aprender e muito talento para o auto-aprendizado por seu alto instinto de sobrevivência. Abandonou a escola, mas devorava as revistas e os velhos e carcomidos livros que alguma ONG depositava num clube social da aldeia. Até que chegou a suas mãos um exemplar de uma publicação educativa de ciência que explicava como converter o vento em eletricidade. Mãos à obra. Era setembro de 2002. 

Com uma velha bicicleta, o ventilador de um trator abandonado, borrachas, madeira de eucalipto e o lixo de agricultores vizinhos começou a construir o primeiro aerogerador particular de todo o país.

- "A princípio, rimos muito dele. Pensávamos que estava fazendo algo completamente inútil." - diz Agnes Kamkwamba, sua mãe.

Medindo peça a peça, buscando materiais mais resistentes e leves possíveis, William conseguiu canalizar o vento através de seu moinho para levar luz artificial a seus assombrados pais. Sem saber, William estava levantando, não só um moinho de vento que ajudaria a abastecer sua aldeia de energia elétrica, senão as bases para a melhoria da deteriorada consciência de seus deprimidos compatriotas.

Em poucas semanas o gerador do moinho estava funcionando. O que mais custou a William foi reunir os 16 dólares que lhe pediam por um dínamo funcional. Um fio de cobre emendado com retalhos díspares, ligava o gerador a uma velha bateria de trator. Esta bateria alimentava 4 lâmpadas, um rádio e inclusive o carregador do único celular da aldeia. Começou com uma altura de 5 metros e conforme ia melhorando sua estrutura e sua potência conseguiu elevá-lo até os 12. Foi o primeiro de uma série de moinhos que William construiu por todo o povoado. 

  • Um projeto mediático

Até aqui uma história inspiradora e alentadora. Agora vem o "efeito em cadeia", as conseqüências inesperadas de um malogrado e sempre compassivo destino. 

O primeiro moinho era um atração. Afinal a construção superava em altura a qualquer casa ou edificação da zona. Um ponto visível na planície africana desde centenas de metros, que atraía curiosos e ajudantes e que converteu William no "engenheiro" mais jovem e admirado do povoado. 

A aldeia fica bem próxima da estrada que leva à capital e dali divisava-se perfeitamente a torre construída por William Kamkwamba. Um jornalista do Daily Times Malawi, Sangwani Mwafulirwa, contatou o garoto para fazer-lhe uma reportagem. Foi um sucesso imediato em todo o país. Sangwani ademais, contagiado pelo "efeito em cadeia", comprometeu-se a pagar com as vendas da entrevista exclusiva, a re-escolarização de William, que imediatamente ingressou em um internato em Lilongwe, a capital. 

Mas, a transcendência e o calado da história tinha apenas começado. Logo o artigo chegou à Internet através de vários blogs africanos e aos ouvidos de Emeka Okafor, um dos mais importantes olheiros do projeto "Thinkers and doers" da TED Global, uma organização que busca jovens talentosos a serviço do desenvolvimento por todo o mundo. O resultado: uma ampla reportagem que deu a volta ao mundo e permitiu a William chamar a atenção sobre os problemas de sua comunidade, e por consequência de todo um país. 

William sempre consentiu, inteligentemente, a exploração de sua imagem e sua inspiradora história, a troca de gerar mais recursos para sua aldeia e os seus. Suas viagens aos Estados Unidos, para revender sua história com entrevistas e conferências, são constantes. Abriu um blog e também se encontra rodando um documentário sobre sua vida em Malawi e está escrevendo um livro que será publicado em setembro deste ano.

Evidentemente há uma grande campanha orquestrada em torno de sua figura e sua história, e ele sabe.






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