5 de set. de 2014

Substituição mitocondrial: conheça a garota que tem três pais biológicos

Alana Saarinen é uma adolescente igual a muitas outras, exceto que é uma das poucas pessoas do mundo que têm o DNA de três pessoas.

Ela não é filha de três pessoas. É apenas resultado de um processo de fertilização que utilizou mitocôndrias de uma terceira pessoa que não seus pais. “Eu tenho o DNA de uma terceira mulher. Mas eu não a considero um de meus pais, eu só tenho algumas de suas mitocôndrias”, explica a garota.

Alana é uma das apenas 30 a 50 pessoas no mundo todo que foram concebidas através de um tratamento de fertilidade pioneiro nos EUA, que mais tarde foi banido.

Ele é chamado de “substituição mitocondrial”, e o debate sobre suas consequências voltou à pauta recentemente porque o Reino Unido votará em breve se os seus médicos poderão fazer o procedimento. Caso isso aconteça, o país se tornará o único no mundo a permitir que crianças com DNA de três pessoas nasçam.

  • O procedimento que deu luz à Alana

As mitocôndrias são frequentemente chamadas de fábricas da célula. São elas que geram a energia que todas as nossas células precisam para funcionar, e mantêm o funcionamento do corpo. Elas também contêm um pouco de DNA.

Alana nasceu através de um procedimento específico chamado de transferência de citoplasma. Sua mãe, Sharon Saarinen, estava tentando ter um bebê há 10 anos através de fertilização in vitro, sem sucesso.

A transferência de citoplasma foi criada no final de 1990 por um embriologista clínico chamado Dr. Jacques Cohen e sua equipe no Instituto St Barnabus, em Nova Jersey, EUA. O médico pensava que algum elemento, alguma estrutura no citoplasma de Sharon não funcionava direito, talvez suas mitocôndrias.

Sendo assim, Cohen transferiu um pouco de citoplasma de uma mulher doadora contendo mitocôndrias ao óvulo de Sharon Saarinen, que foi então fertilizado com o esperma de seu marido. Como um pouco de mitocôndria da doadora foi transferida para o embrião, seu DNA também foi.

  • Reação da comunidade científica

Na época, alguns cientistas estavam preocupados porque achavam que esta era uma modificação genética germinal. Isso significa que uma criança como Alana passaria seu código genético incomum para seus filhos, seus netos e assim por diante.

Como herdamos nossas mitocôndrias de nossas mães, apenas crianças do sexo feminino passariam seu código genético incomum para frente. Essa “situação germinal” nunca foi vista antes, então pouco se sabe sobre suas consequências.

A saúde das crianças, como Alana, nascidas da transferência de citoplasma está sendo analisada agora por causa da decisão que o Reino Unido vai tomar em breve. Alana parece muito bem e leva uma vida normal.

No entanto, o Dr. Ted Morrow, biólogo evolucionista da Universidade de Sussex (Reino Unido), realizou experimentos de substituição mitocondrial em outros animais e levantou preocupações de segurança.

“No caso dos ratos, houve mudanças na capacidade cognitiva (…) para aprender e fazer as coisas usando seu cérebro. Em moscas e besouros houve mudanças na fertilidade masculina, mudanças no envelhecimento. Uma série de características diferentes foram vistas em várias experiências”, disse.

Mas também existem cientistas favoráveis à técnica. Peter Braude, professor emérito de obstetrícia e ginecologia na Universidade Kings College London (Reino Unido), disse que experimentos realizados com macacos em Oregon, nos Estados Unidos, não viram problemas de saúde nos animais, agora com cinco anos de idade.

Braude também aponta que ter DNA de uma terceira pessoa no seu sistema não é “nada particularmente novo”.

“Pense em transplantes de medula óssea. Pessoas com leucemia tem que ter a sua medula óssea irradiada para o câncer morrer e, em seguida, substituída por medula óssea de outra pessoa. Efetivamente, desse momento em diante, ela terá circulando em seu corpo DNA de outra pessoa. Não se tornará parente dela, mas sim será grato a ela”, argumenta. [

Fontes (Sciencealert, BBC)





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