28 de ago. de 2015

Experimento social único: heterossexual cristão fingiu ser gay por um ano

  • Uma experiência que mudou a sua homofobia e o fez se sentir mais humano

Embora tenha crescido acreditando que a homossexualidade era um grande pecado, em 2010 Timothy Kurek, de Nashville, Tennessee, nos Estados Unidos, passou um ano inteiro fingindo ser gay em uma tentativa de tentar compreender verdadeiramente a empatia com a qual as pessoas homossexuais passam. 

O experimento social de Timothy é extraordinário, dado o tipo de educação que ele teve como um profundo cristão conservador no Cinturão Bíblico da América.

- "Você aprende a ser muito temente a Deus", disse ele. - "A coisa mais amorosa a dizer ao seu amigo gay é: 'Ei, escute, você é uma abominação cara e você precisa se arrepender se quiser ir para o céu. Eu acreditava cegamente em tudo isso".

Na verdade, Timothy era tão devoto quando adolescente que os amigos de seus pais rotineiramente pediam que ele aconselhasse seus filhos por mau comportamento.

- "Eu ficava no telefone até as quatro da manhã, pedindo para que se arrependessem de seus pecados", disse ele.



Mas tudo isso mudou cerca de sete anos atrás, quando uma grande amiga das baladas de karaokê confidenciou a Timothy que era lésbica. Ela contou que seus pais tinham a deserdado e foi expulsa de casa, e foi quando Timothy sentiu como se tivesse falhado como amigo.

- "Eu senti como se Deus realmente tivesse me dado um chute na barriga", disse ele. - "Ela estava chorando em meus braços e, em vez de estar consolando-a, eu estava pensando sobre todos os argumentos para convertê-la". Isso marcou profundamente Timothy, que pela primeira vez questionou seua conceito de vida:

- "Talvez essa voz dentro da minha cabeça que me dizia para fazer outra coisa senão estar lá para ajudar a sanar sua dor... talvez aquela voz não fosse Deus", disse ele recentemente durante uma palestra TED. - "Talvez essa voz tenha sido o resultado de duas décadas passadas em uma bolha religiosa hiper-conservadora".

Sua própria reação o surpreendeu, e pela primeira vez Timothy começou a se perguntar o que realmente sentiria um gay vivendo tão isolado. Assim, apesar de ser um heterossexual empedernido, decidiu viver como um gay por um ano.

- "Eu precisava empatizar com a causa para tentar entender tudo isso", disse ele. - "Para sentir realmente na pele, eu tinha que ter a experiência real de ser gay".

Timothy passou seis meses tramando e planejando a sua saída do armário, mas aconteceu de forma inesperada um dia, quando estava sentado em um café em Nashville. Ele estava mergulhado na leitura de um livro com temática gay, quando percebeu que as pessoas estavam rindo dele.

- "Um cara veio até mim quando viu a capa e disse: 'Você sabe que é fundamentalmente falso. Você não pode ser gay e cristão", quando, Timothy respondeu: - "Eu sou gay e amo Deus".

Ele então disse a seu amigos, família, igreja que era gay. Apenas dois de seus amigos e uma tia sabiam de seu segredo, para lidar com as coisas, se elas fugissem do controle. 

Ele conseguiu um emprego em um café gay, passou a frequentar bares gays, juntou-se uma liga de softbol gay e até mesmo arrumou um namorado falso, Shawn. E como esperado, a notícia não foi bem recebida. Amigos escreviam e-mails pedindo-lhe para se arrepender de seus pecados e alertando-o da condenação.

Não foi fácil para Timothy tampouco, pois ele foi homofóbico toda a sua vida. Sua primeira visita a uma boate gay em Nashville o deixou horrorizado. Ele foi sozinho e logo foi abordado por um homem sem camisa coberto de óleo de bebê. O homem, sendo muito maior do que Timothy, arrastou-o para a pista de dança e fingiu montá-lo como um cavalo enquanto tocava uma música de discoteca dos anos 80.

- "Eu queria vomitar", escreveu Timothy mais tarde. - "Eu senti como se estivesse no próprio inferno."

Mas Timothy manteve o disfarce e as coisas logo começaram a melhorar. Shawn, fazendo o papel de namorado protetor e ciumento, ajudou-o a evitar investidas indesejadas de outros homens. Conforme ele explorava a cultura gay, percebeu o quão diverso e interessante era. E ficou surpreso ao descobrir cristãos gays mais devotos do que ele. Timothy tornou-se tão ativo em um grupo de direitos gays que ele mesmo se juntou a um protesto do lado de fora da embaixada do Vaticano nas Nações Unidas em Nova Iorque.

O ponto mais devastador na jornada de Timothy, no entanto, foi descobrir a verdadeira reação de sua mãe com a sua nova condição. Ele leu seu diário, no qual ela havia escrito:

- "Eu preferia que um médico me dissesse que eu tenho câncer terminal do que ter um filho gay", mas felizmente, ao longo do tempo, ela foi conquistada pela persistência de Timothy e foi capaz de mudar seus pontos de vista.

- "Minha mãe deixou de ser uma cristã conservadora para ser uma aliada à comunidade gay", disse Timothy. - "Estou muito orgulhoso dela."

Timothy também teve de suportar insultos e ele ainda se lembra da primeira vez que foi chamado de "bicha escrota" durante uma sessão de treinos de softbol em Nashville.

- "Quando fui insultado pela primeira vez, eu me perdi inteirinho", disse ele. - "Senti o sangue nos olhos, sabe? Me senti tão violado por essa palavra que nem sei explicar direito".

Até o final daquele ano, ele havia perdido 95% de seus velhos amigos, mas fez muitos outros em troca. Timothy terminou a sua experiência revelando o seu segredo e saiu do armário novamente, dessa vez como heterossexual. O homem de 29 anos de idade passou a escrever um livro de memórias baseado em suas experiências durante esse ano, intitulado "The Cross in the Closet". Ele diz que sua jornada, surpreendentemente, renovou sua fé religiosa em vez de diminuí-la.

- "Ser gay por um ano salvou a minha fé", revelou. Ele também aprendeu que uma grande maioria dos cristãos não são homofóbicos. - "É apenas uma minoria ativa e que adora fazer barulho para ser notada e atrair toda a atenção."

Mas em seu livro, Timothy passou bem longe da teologia. 

- "Eu quero que isso seja visto como um problema das (e causado pelas) pessoas e não uma questão religiosa", disse ele. - "No final, também, este é um livro sobre preconceito, não sobre ser gay."






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