5 de nov. de 2015

Idosas que tatuaram rosto por moda no passado relatam arrependimento

  • Tatuagens eram sinal de beleza feminina entre povos tradicionais na Argélia

Em um povoado remoto da Argélia, uma geração inteira de mulheres idosas convive com as tatuagens faciais que fizeram quando eram adolescentes.

Para o povo berber da região de Chaouia, nas montanhas Aures, a beleza das mulheres era julgada no passado por suas tatuagens. Segundo a tradição, quanto mais tatuagens elas tivessem, mais cotadas eram entre os homens locais.

Hoje, muitas se arrependem, principalmente por motivos religiosos. Algumas pessoas têm dito a elas, que são muçulmanas, que ao se tatuarem elas cometeram um pecado de acordo com o Islã.

A crença local é de que elas serão punidas após a morte e uma cobra comerá seu cadáver. Para tentar compensar, muitas estão doando suas joias e bens de valor para as mulheres mais pobres que conhecem. No ritual que seguem, elas esfregam essas joias nas tatuagens, para simbolizar que estão se livrando delas.

Apesar disso, uma das mulheres entrevistadas acredita que as tatuagens lhe trouxeram sorte e a ajudaram a ter filhos, “salvando seu casamento”. Outra acredita que apenas seguiu um costume local e por isso não será punida.

Muitas ainda se lembram da dor que sentiram na época em que foram tatuadas por parentes ou por pessoas da comunidade. Veja a seguir o depoimento de algumas delas:


  • Fatma Tarnouni, 106


Ela foi tatuada aos 10 anos por um homem da região do Sahara. “Era a regra. E era moda também. Todas as garotas eram tatuadas. Para ser bonita, você tinha quer ter tatuagens, então eu fiz”, conta.

Ela se arrepende. “Serei punida por Deus e serei comida pela cobra no meu túmulo. Se eu soubesse que não era permitido pela minha religião, claro que eu não teria feito isso”, afirma.


  • Fatma Badredine, 94


Badredine foi tatuada aos 13 anos por um mulher nômade de região. “Tive que encarar uma dor terrível só para parecer bonita”, diz. “Agora queria remover a tatuagem, mas o médico me disse que na minha idade não seria possível”, completa.


  • Djemaa Daoudi, 90


Djemaa foi forçada a fazer a tatuagem por seu marido logo depois do casamento deles, quando ela tinha 15 anos. Uma mulher da cidade a tatuou. Ela se arrepende. “Mesmo não tendo sido uma decisão minha, peço perdão a Deus. Doei tudo o que considero precioso, como minhas joias de prata e minhas roupas de lã, como oferenda para tentar ser perdoada”, diz.


  • Khamsaa Hougali, 68


O caso de Khamsaa é diferente de muitas outras. “Minha sogra me sugeriu que eu me tatuasse para me trazer sorte depois da morte dos meus três primeiros filhos”, conta. “Meu primo e minha cunhada me tatuaram. Eu tinha a intuição de que Deus me daria uma criança que eu queria e salvaria meu casamento. Não era aceitável que uma esposa não desse filhos ao marido.”

Ela garante que deu certo “Acredite ou não, depois que fui tatuada eu tive seis filhos e estão todos vivos”, relata.

Por tudo isso, ela não se arrepende. “Eu apenas segui a tradição dos meus ancestrais e foi por um bom motivo, já que salvou meu casamento.”


  • Djena Benzahra, 74


Djena foi forçada a se tatuar quando tinha nove anos por sua mãe, que queria que ela parecesse bonita. Todas as garotas de sua idade tinham tatuagens, disse sua mãe. “Ainda lembro, foi tão dolorido. Eu chorava, me recusava”, diz. Ela hoje se arrepende de ter permitido que fizessem as tatuagens nela.


  • Aisha Djelal, 73


Arrependida de suas tatuagens, Aisha chorou enquanto fazia as oferendas para tentar se livrar da suposta punição divina que receberia após a morte. "Senti que cada lágrima lavava um pouco das minhas tatuagens", diz.



  • Khadra Kabssi, 74

Kabssi foi tatuada aos 21 anos por seu primo logo depois da independência da Argélia em relação à França. “Fiz isso para ficar bonita para a independência do meu país. E todas as meninas da minha idade tinham tatuagens”, diz.

Ela não se arrepende e não acredita que será punida por Deus. “Não acredito no que dizem. Se uma cobra quer comer meu corpo, tudo bem, já estarei morta mesmo. Não vou sentir nada.”




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