18 de abr. de 2016

Arquivos secretos do Vaticano, a caixa de Pandora da História?

O Archivum Secretum Apostolicum Vaticanum foi criado pelo papa Paulo V em 1612 para resguardar os documentos pessoais dos papas. 

Muitos destes documentos têm valor histórico já que são evidência direta do envolvimento da Igreja em questões políticas em todo mundo, desde a correspondência com líderes mundiais e os tratados teológicos que integraram a doutrina que professam milhões de seres humanos até curiosidades inclassificáveis para a ciência e a arte.

Se alguém quiser entrar nos arquivos secretos do Vaticano, primeiro deve se creditar como um pesquisador de primeira ordem com muitas cartas de recomendação de publicações e instituições educacionais, que dará uma credencial com vigência de 6 meses. Se sua pesquisa durar mais, você terá que voltar à tramitar. Não outorgam credenciais a jornalistas, estudantes nem historiadores amadores. Este é o primeiro filtro.

Uma vez que você tenha a licença, deve cruzar a porta Sant'Anna e passar em frente aos guardas suíços até chegar ao Cortile do Belvedere, onde deverá solicitar documentos específicos que, paradoxalmente, poderiam ou não estar nas pastas que te estendam os arquivistas.


Se isto começa a parecer um pesadelo kafkiano, é porque é: um pesquisador pode solicitar três arquivos por dia, utilizando catálogos escritos há séculos a mão e em sua maioria em latim ou italiano. 

Se você descobrir que o documento que procurava não está no arquivo solicitado terá que se retirar e voltar no dia seguinte, o que resulta em sérios apertos para pesquisadores que viajam longas distâncias. Você pode entrar com um notebook, mas câmeras fotográficas são terminantemente proibidas.

Os documentos só podem ser consultados no andar de leitura, e naturalmente não é possível fazer cópias de nada. E se você der sorte de encontrar algo, não é possível procurar no arquivo, que por outra parte cobre uma superfície de 85 km de estantes em vários níveis, alguns sem acesso.

Com motivo do 400º aniversário de sua fundação, em 2012, inauguraram a exposição Lux in Arcana, que oferecia uma olhada a 100 dos milhões de documentos, entre eles a última carta de Maria Antonieta antes de ser guilhotinada, o processo completo de Galileu Galilei e a guia papal Inter Caetera de Alejandro VI, que dividia o Novo Mundo entre Espanha e Portugal, além de muitos outros.

O secretismo com o qual são custodiados estes documentos não deve surpreender; ao contrário: o Vaticano é somente o padrão na indústria do acesso (ou seria obstrução?) à informação, bem como uma referência importante para entender a mudança de valor de certo tipo de dados.

Muitas leis e tratados de nossos dias são deixados fora do escrutínio público por períodos de embargo caprichosos, entre 5 até 20 anos, dependendo do que se trate; o sigilo é uma maneira que o poder constituído encontrou para se proteger do alcance das leis, de forma que a "verdade histórica" se constrói necessariamente com peças faltantes.

Provavelmente os arquivos não tenham nada que já não conheçamos de uma ou outra forma, mas o fato de seu permanente secretismo é um indicador de quão importante (e igualmente caliginosa) segue sendo a Igreja como guardiã da memória histórica, cujos últimos 12 séculos se encontram nos sótãos do Vaticano.

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