- Para sobreviver, às vezes é preciso esconder a identidade - ou apropriar-se da alheia
Mimetismo consiste na presença, por parte de determinados organismos denominados mímicos, de características que os confundem com um outro grupo de organismos, os modelos. Essa semelhança pode se dar principalmente no padrão de coloração, textura, forma do corpo, comportamento e características químicas, e deve conferir ao mímico uma vantagem adaptativa.
O mimetismo é comumente confundido com a camuflagem. No entanto, a distinção entre esses processos se dá pelo fato de que o mimetismo consiste na semelhança com um organismo em específico, enquanto a camuflagem ocorre quando determinado organismo possui um padrão de coloração semelhante ao seu entorno, dificultando sua detecção. Apesar de ser uma classificação um tanto subjetiva e sujeita a alguns casos intermediários, podemos perceber que mimetismo e camuflagem constituem estratégias distintas. No caso da camuflagem o organismo evita a detecção, enquanto no mimetismo o organismo é detectado, mas o organismo-alvo o confunde com outro.
ENTENDEU? ENTÃO SEGUE-SE CASOS DOS DOIS EXEMPLOS:
Três sapos coletados a poucos metros de distância ficam quase invisíveis no solo de uma floresta no Panamá. Nos trópicos, em que quase tudo é alimento para outro animal, os truques do mimetismo servem para enganar o olho dos predadores.
A ave que avançar contra o besouro nesta flor de maracujá pode ser atraída pela vibração dos penachos rubros nas patas do inseto - com isso, ele tenta desviar o predador para órgãos menos vitais.
Uma esperança do tamanho de um dedo mal se destaca na mata panamenha. Mas a camuflagem não se limita à aparência - também é preciso desempenhar bem o papel. Este inseto noturno se mantém imóvel durante o dia na tentativa de se mesclar ao ambiente.
Uma fêmea de bicho-folha da Malásia faz parte de uma linhagem de mimetizadores de folhas. Esse grupo de insetos pouco mudou nos últimos 47 milhões de anos, a julgar por um fóssil achado há pouco tempo na Alemanha. A maior dentre os milhares de espécies de bichos-folha, a Phyllium giganteum, pode medir até 10 centímetros
Arremedando folhas com perfeição, duas esperanças com pernas similares a galhos conseguem descansar ou alimentar-se sem chamar atenção. Mesmo assim nem sempre são bem-sucedidas. Ricas em proteínas e desprovidas de toxinas, as esperanças são perseguidas e identificadas por macacos, aves, lagartos e serpentes.
Um par adicional de olhos, mesmo que falsos, pode ser uma vantagem a insetos visados por predadores que dependem da visão. A primeira defesa de um fulgorídeo é a camuflagem
Mas, se uma ave, um lagarto ou outro predador tenta devorá-lo, o inseto pode afugentar o atacante ao exibir manchas vermelhas que simulam os olhos de um animal maior.
Uma pupa de borboleta, de uma espécie descoberta na Costa Rica, também exibe um falso rosto. "Espiando" para fora de seu casulo de folhas, os falsos olhos podem afastar aves que vasculham a folhagem. Os olhos falsos não são 100% seguros. Por isso, os animais capturados talvez disponham de outras defesas, como sabor desagradável ou secreção de toxinas. Os fulgorídeos adotam um recurso mais vigoroso, zumbindo como uma vespa de ferrão.
A ninfa do percevejo Hyalymenus (de cabeça para baixo) evoluiu de modo a mimetizar a aparência e o comportamento de formigas que se alimentam de seiva, criaturas capazes de dar ferroadas e lançar toxinas. Predadores que evitam essas formigas se mantêm longe dos impostores. O risco: quando notam as ninfas entre elas, as formigas logo as atacam.
Uma lagarta de mariposa saturnídea tem uma cabeça falsa com antenas de mentira, fazendo com que os predadores mordam a parte posterior de seu corpo. Plano B: se o truque falhar, espinhos na cabeça verdadeira talvez levem o atacante a cuspir a presa ainda intacta.
Para um parasita nematódeo, o objetivo não é se esquivar, mas ser devorado. Quando se instala no corpo de uma formiga, ele faz com que a parte posterior de sua hospedeira fique vermelha e proeminente como um fruto maduro. Com isso, a formiga é comida por engano por alguma ave, a qual ingere um bocado de ovos do parasita. Em seguida, a ave dissemina os ovos por meio de seus excrementos, que serão consumidos pelas formigas, reiniciando o ciclo.
Em um nicho separado de seus primos verdes, o louva-a-deus Deroplatys trigonodera evoluiu para se parecer com uma folha em decomposição no solo da floresta tropical. O inseto sorrateiro, com grandes olhos adaptados à caça noturna, é um predador mestre na arte de ficar sentado esperando. Ele fica à espreita sem ser notado e então, com um movimento ligeiro das patas dianteiras delgadas, agarra a presa que não desconfia de nada.
Quando a capacidade de evitar que seja detectado falha, o Deroplatys angustatat, que imita folhas mortas, do Sudeste Asiático, pode fazer aparecer cores fortes e formas de olhos na parte de baixo das patas e asas dianteiras para assustar os inimigos
Olhos e antenas mal revelam a cabeça do inseto Phyllium giganteum. Os primeiros botânicos acreditavam que os insetos de folha na verdade incorporavam a folhagem que imitavam. Como Richard Bradley, Royal Society Fellow, escreveu em 1759, "o inseto se alimenta dos sucos da árvore - e, com a queda da folha, cai da árvore com as folhas crescendo a seu corpo como asas, e então sai andando". A descrição "pode parecer cômica analisando agora", diz Edward Baker, do Natural History Museum of London, "mas a verdade é que ainda sabemos muito pouco sobre a biologia da maior parte dessas espécies".
Pode ser que você precise olhar duas vezes - ou até três - para detectar o Lonchode jejunus, um pauzinho encontrado no Bornéu malaio.
5 comentários:
sensacional o que a natureza pode fazer
Fico sem acreditar os que esses bichos fazem para se esconder ou se defender, é de deixa o queixo caido. Muito bom a postagem, parabéns
Fantástico essa defesa dos animais. Parabéns pelo post
Excelenteeeee.....Sou agronomo e estudei muito a biologia dos insetos, pois sao um grande problema em todas as culturas..Sou fascinado por eles e a cada dia me surpreendo mais. O ultimo exemplar é conhecido com bicho-pau, e tem varias espécies nas américas, eu consegui coletar um de quase 30 cm.
E ainda dizem que não existe um arquiteto por se trás de tudo isso... Que tudo aconteceu pelo acaso... Num processo de milhões de anos...
Acredito que nem milhões de milênios explicaria algo tão maravilhoso...
A evolução pode explicar como ficamos em pé, mas não esse tipo de coisas..
Qual a percepção desses seres vivos pra outros?
Como sabem o que seu predadores querem?
Como uma planta pode saber da existência de seus polinizadores e o que eles querem?
É preciso ter muita fé pra acreditar no acaso!
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