Toda sociedade é construída por tradições. Algumas delas, no entanto, são extremamente questionáveis, como por exemplo, uma tradição indiana que faz com que bebês sejam lançados do alto de uma torre para que recebam “saúde e vida longa”, ou jovens que precisam se jogar de penhascos amarrados em cordas para provar que se tornaram adultos, como acontece em uma ilha no Oceano Pacífico. O fato é que, dignas ou hediondas, as tradições deixaram legados culturais para toda as sociedades, sejam eles positivos ou negativos.
Mas é sobre uma tradição da Grécia Antiga que nós vamos falar aqui. No período entre IV e V d.C., uma crença difundida entre os gregos falava sobre a existência de demônios e fantasmas que afetavam diretamente as pessoas, personificando seus medos mais terríveis.
Em períodos de guerra, crise ou pragas, por exemplo, era comum que a moral da sociedade ficasse abalada. Para aliviar essa tensão social, um costume sombrio foi difundido entre os gregos: uma cerimônia chamada “Pharmakos”. O ritual consistia em sacrificar uma pessoa “feia” durante a celebração do Targhelia, com a finalidade de livrar a comunidade das desgraças.
Dada a época, as pessoas escolhidas eram, em geral, as que possuíam algum tipo de deficiência, e isso se torna mais óbvio devido à já conhecida obsessão dos gregos pela beleza. Relatos afirmam que escravos, criminosos, assassinos ou até mesmo endividados, também eram selecionáveis para o cargo de bode-expiatório das desgraças da comunidade.
Durante o ritual, que durava dias, a população selecionava dois candidatos, também chamados de “Pharmakos”. Eles eram alimentados com as melhores iguarias da época, usavam boas vestimentas e eram obrigados a usar colares com figos pretos e brancos, para representar os homens e as mulheres respectivamente. Posteriormente, os escolhidos eram expulsos da cidade ou apedrejados até a morte pela população.
Além do culto à beleza e pureza pregado pela sociedade grega antiga, um outro ponto importante fomenta ainda mais a ideia do ritual: o poder do sacrifício humano para a salvação de uma comunidade. Sendo assim, o Phamarkos era a representação da purificação de toda sociedade através do sacrifício de um membro fora dos padrões estabelecidos na época.
A palavra, que curiosamente originou a palavra em inglês “pharmacy” (farmácia), é ambígua. Pode significar remédio ou veneno. O que também representa a dualidade do ritual, que coloca o bode-expiatório como culpado, mas ao mesmo tempo como salvador.
Logicamente que a prática já foi abolida da sociedade e é impensável para os dias de hoje.
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