6 de nov. de 2016

As dezenas de empregados que moram no estacionamento do aeroporto de Los Angeles

"Adoraria ter uma cama e um chuveiro no escritório." Quem nunca pensou isso após sair tarde do trabalho e lembrar que precisa voltar cedo no dia seguinte?

Ter um sofá-cama nas redações, por exemplo, não seria nada mal durante a intensa cobertura das eleições americanas, brincam alguns jornalistas.

Mas o que para a maioria das pessoas não passa de uma piada ou desabafo se tornou realidade para mais de 100 empregados do Aeroporto Internacional de Los Angeles, o terceiro mais movimentado dos Estados Unidos.

Cansados das intermináveis viagens de ida e volta para o trabalho ou oprimidos pelo alto preço dos aluguéis na Califórnia, eles decidiram morar no estacionamento do aeroporto. E as autoridades aeroportuárias permitiram.

  • Casas sobre rodas

Quem entra nesta área do aeroporto se depara com um acampamento repleto de trailers e motorhomes - tipo de comunidade comum em bairros menos favorecidos de cidades americanas ou áreas turísticas.

Este lugar chama a atenção, no entanto, pela particularidade de seus moradores: todos trabalham em algum setor da indústria de aviação. Há pilotos, copilotos, comissários de bordo, mecânicos, funcionários de empresas de carga e do próprio aeroporto.

O barulho dos aviões que sobrevoam a poucos metros as casas sobre rodas também é um diferencial. Mas os moradores da comunidade parecem estar acostumados.

"Este é o preço de ser um piloto hoje", disse Todd, um profissional de 45 anos que guia aviões da companhia Alaska Airlines, à BBC.

Ele ganha cerca de US$ 70 mil (R$ 226 mil) por ano e vive em um trailer de 1973, que era de seu pai. Sua mulher e o filho de 7 anos do casal moram em Fresno, cidade localizada a cerca de quatro horas de carro de Los Angeles.

"Queria ser piloto por toda minha vida. Pode ser horrível, mas eu tenho que sustentar minha família - e eu adoro pilotar", explica.

A paisagem pode ser um pouco deprimente: o conjunto de trailers e motorhomes brancos e beges sobre o asfalto, situado a poucos metros da pista de pouso e decolagem, definitivamente não é um exemplo de beleza urbana.

As janelas dos automóveis precisam ser cobertas com papel opaco para que seus moradores consigam dormir durante o dia. Eles praticam exercícios em um ginásio próximo e usam o chuveiro de lá para economizar água.

Todd pelo menos tem uma família para visitar com certa frequência e compensar os momentos de solidão. Outros, não.

"A indústria da aviação tem uma alta taxa de divórcio. Estamos sempre viajando, sempre fora de casa", diz um homem que prefere não ser identificado.

Ele acrescenta, no entanto, que é fascinado por esse estilo de vida. Há quase 11 anos ele vive assim.

  • Mais de 10 anos de existência

Uma década se passou desde que as autoridades aeroportuárias decidiram formalizar o acampamento, que surgiu por iniciativa de alguns trabalhadores.

Atingidos pela crise econômica de 2008 e pelo declínio da aviação comercial, eles se deram conta que não valia a pena ir e voltar para casa todos os dias, uma vez que algumas moradias estão a centenas de quilômetros de Los Angeles.

Neste contexto, começaram a surgir grupos de trailers espalhados pelos diversos estacionamentos do aeroporto, até que as autoridades resolveram reunir todos os motorhomes no estacionamento B.

Os moradores se orgulham da organização: aspirantes a vizinhos têm que aplicar para uma vaga, apresentar seus antecedentes e seguir um rigoroso código de conduta em termos de higiene e barulho.

Não esquecendo, é claro, da exigência principal: trabalhar em uma companhia aérea ou no aeroporto.

  • Possível despejo

O futuro da comunidade, no entanto, ainda é incerto.

A empresa que administra o aeroporto, a Los Angeles World Airports, não parece confortável com a existência dessa estrutura e considera despejá-los.

Os moradores, que pagam menos de US$ 100 (R$ 323) por mês para ocupar o espaço, não se afetam.

Eles sabem que se trata de um estilo de vida temporário e estão dispostos a aproveitá-lo enquanto durar.




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