- A ONU sugere que comamos insetos
Como forma de combater o problema da fome no mundo, a Organização das Nações Unidas (ONU), por meio de sua Organização para Agricultura e Alimentação (FAO), vem tentando estimular a introdução de insetos na alimentação diária dos seres humanos, o que poderia suprir as necessidades diárias de proteínas. A instituição argumenta, ainda, que isso reduziria a produção de carne, que é responsável por aproximadamente 20% de toda a emissão global de CO2. Mas será mesmo que essa prática pode resolver esses problemas? E mais: é saudável comer insetos?
Chamado de "entomofagia", o consumo de insetos, aracnídeos e artrópodes em geral é um hábito alimentar amplamente utilizado em algumas culturas do mundo, especialmente na Ásia, África e América Central, e poderia de fato ser uma alternativa para crise da pecuária.
Segundo estudo da FAO, cada 100 gramas de lagarta seca contém 53 gramas de proteínas, com cerca de 15% de gordura e 17% de carboidratos - o documento ressalta também que insetos têm alto valor energético e proporção maior de proteínas e gorduras do que carne bovina ou de peixe.
Ainda de acordo com números da FAO, a criação de gado, porcos e ovelhas ocupa hoje dois terços das terras antes destinadas a plantio e é responsável pela emissão de 20% dos gases que causam o aquecimento global.
Mas a idéia não é unanimidade. "Os insetos podem até ser fontes de nutrientes, mas é preciso matar um grande número de animais para alimentar as pessoas. Me pergunto por que não considerar a alternativa milenarmente mais fácil que é consumir vegetais, que são fonte garantida de proteínas de alto valor. Me parece que a ONU quer apenas colocar mais uma alternativa diferente, mas não quer fazer as pessoas repensarem seus modos nocivos de viver", diz a bióloga Ellen Augusta Valer de Freitas, que defende que a pecuária dê espaço às plantações.
Ela alerta também para o fato de que alguns insetos podem conter bactérias nocivas ao ser humano, além de pigmentação e estruturas que nem sempre são palatáveis e podem causar alergias. Para quem não está acostumado a seu consumo, insetos podem prover as proteínas necessárias em um momento de emergência até o resgate, mas é preciso tomar cuidado e saber quais animais são tóxicos.
Em geral, insetos de coloração preta, verde ou marrom podem ser consumidos, enquanto animais de cor vermelha, laranja ou amarela são prejudiciais.
Existem cerca de 1.400 espécies de insetos conhecidas que são comestíveis, em sua maioria consumidos nos estágios de larvas e pupas. Encabeçando a lista dos mais comestíveis está o besouro, com 344 variedades. Na China, grilos tostados são servidos como aperitivos ou cozidos no arroz. Já as larvas são adicionadas à sopas ou servidas fritas. Na Tailândia e no Vietnã, as baratas d'água, que na realidade são besouros aquáticos, são alimentos bastante populares. Luta contra a fome
Freitas concorda com a posição da FAO ao dizer que o consumo de carne é nocivo para o meio ambiente e que irá acentuar ainda mais o problema da fome. "Para ajudar a acabar com a fome é preciso, sim, deixar de comer carne de animais. A pecuária utiliza áreas imensas que poderiam ser cultiváveis, causam desmatamento, perdas de água significativas e além disso, a carne em geral é cara, energeticamente, ecologicamente e financeiramente. De modo que populações pobres passam fome porque não têm acesso a carne, nem a vegetais que deixam de ser plantados para dar espaço a soja para o gado ou ao próprio gado", explica.
Mas não se assuste: o fato de a entomofagia fazer parte do cotidiano no oriente não significa que o ocidente precise ir pelo mesmo caminho. A American Dietetic Association (Associação Dietética Americana) e a Dietitians of Canada (Nutricionistas do Canadá) indicam que dietas vegetarianas corretamente planejadas seriam saudáveis, adequadas em termos nutricionais e trariam benefícios na prevenção e no tratamento de determinadas doenças.
"Vegetais como cereais, grãos, legumes, frutas, folhas e sementes são fontes de proteína, vitaminas e outros nutrientes usados há milênios pela humanidade, antes mesmo da caça. E, em alguns lugares, foi substituta da caça. Há pesquisas que mostram que este tipo de dieta não só promove a saúde e a longevidade, mas também ajuda a otimizar os solos, evitar a fome, economizar água e contribuir para a diminuição do aquecimento global", completa a bióloga.
Fonte: Terra
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