- Foguetes usados são o lixo mais perigoso do espaço
Um grupo de cientistas propôs o que, segundo alguns, talvez seja uma solução viável para o acúmulo crescente de lixo em órbita em torno da Terra.
A ideia envolve o lançamento de um satélite que se acoplaria aos objetos - fragmentos de foguetes usados e outros detritos - e os equiparia com um motor propulsor. O motor levaria o objeto em direção à atmosfera da Terra, onde ele se desintegraria.
Os autores dizem que o esquema, descrito em artigo publicado na revista científica Acta Astronautica, poderia remover, de forma relativamente barata, entre cinco e dez objetos do espaço por ano.
O problema é sério e pode se agravar. Mais de 17 mil objetos com tamanho acima de dez cm orbitam a Terra hoje.
Os maiores entre eles podem, ao se chocar com outros objetos, se desintegrar, gerando milheres de objetos menores.
"Na nossa opinião, o problema é um grande desafio e é urgente (que encontremos uma solução)", disse Marco Castronuovo, pesquisador da Agência Espacial Italiana, um dos autores da proposta.
"O momento de agir é agora. Com a passagem do tempo, teremos de remover mais e mais fragmentos", disse Castronuovo à BBC.
Em 2007, a China apresentou ao mundo um sistema antisatélite criado para destruir satélites desativados. Para demonstrar o funcionamento da tecnologia, os chineses destruíram um de seus próprios satélites. A operação produziu, no entanto, outros dois mil fragmentos.
O que os cientistas temem é uma espécie de reação em cadeia, a chamada Síndrome de Kessler (batizada assim em referência ao cientista da Nasa que descreveu o fenômeno pela primeira vez, em 1978).
Como parte do fenômeno, fragmentos se chocam com outros fragmentos que, por sua vez, se chocam com mais detritos, gerando uma nuvem de objetos que tornaria inúteis grandes porções da órbita da Terra.
Os detritos representam um risco não apenas para outros satélites, mas também para a Estação Espacial Internacional e missões espaciais tripuladas.
- Política Espacial
O estudo de Castronuovo identificou mais de 60 objetos em órbita a cerca de 850 km de distância da Terra, dois terços deles pesam mais de três toneladas cada um e muitos se movem a uma velocidade aproximada de 7,5 km por segundo.
Entre os objetos maiores, a grande maioria é composta de pedaços de foguetes usados. Segundo Castronuovo, é por eles que a faxina deveria começar.
"É difícil do ponto de vista político. Muitos desses objetos pertencem a nações que não querem cooperar ou não permitem acesso a seus objetos, mesmo que estejam no fim de sua vida operacional", explicou o cientista. "E não existe um regulamento internacional sobre quem deveria remover os objetos que são deixados no espaço"."Se começarmos a nos concentrar nos fragmentos de foguetes usados - que não contêm equipamento confidencial à bordo - não seria problema para o proprietário dar permissão para sua remoção".
Castronuovo propõe um esquema no qual pequenos satélites são lançados em missões de sete anos. Cada um é equipado com dois braços robóticos.
Um braço intercepta um pedaço de foguete ou satélite desativado ou quebrado e o segura. Outro fixa no objeto um motor propulsor que levará o fragmento para fora da órbita.
Completada a operação, o satélite liberaria o fragmento, seguindo em direção ao próximo.
- Repercussão
Fazendo uma avaliação sobre a proposta de Castronuovo e sua equipe, Stuart Eves, engenheiro da empresa de tecnologia de satélites inglesa Surrey Satelite Technology, disse:
"As operações e manobras de proximidade mencionadas aqui não são fáceis, mas a tecnologia está chegando lá".
"As pessoas chegam com todo tipo de ideia absurda, que não passam de ficção científica no momento. Uma coisa como essa é bem mais prática".
Entretanto, o grande problema pode ser político. Propostas desse tipo nunca são vistas como puramente motivadas pela necessidade de retirar o lixo do espaço, explicou Castronuovo.
"Esse tipo de abordagem poderia ser visto como uma ameaça a sistemas operacionais. Se você tem o poder de ir a um objeto no espaço e derrubá-lo, nada impede você de derrubar um satélite em funcionamento, então essa questão é realmente delicada".
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