- A doença de Alzheimer pode ser transmitida por transfusões de sangue, operações e até mesmo tratamento dentário, afirmam pesquisadores.
Um estudo potencialmente polêmico forneceu a primeira evidência de que a condição devastadora pode transmitida em “procedimentos médicos”, desde que conte com a influência de hormônios de pessoas com condições específicas.
O professor e pesquisador britânico, John Collinge, disse que “precisamos repensar nossa visão sobre a doença de Alzheimer e avaliar o risco dela ser transmitida inadvertidamente à pessoas doentes”.
Richard Kerr, presidente da Sociedade Britânica de Cirurgiões Neurológicos e um dos neurocirurgiões líderes do Reino Unido, advertiu que não sabemos se as técnicas utilizadas para esterilização dos instrumentos médicos são eficazes e disse que a pesquisa "deve ser levada a sério". No entanto, outros pediram cautela, dizendo que o estudo foi pequeno e não prova que a doença de Alzheimer seja, de fato, contagiosa.
O professor Collinge, da University College London, na Inglaterra, relacionou as formas de transmissão da doença da vaca louca - que pode incluir a Doença de Creutzfeldt-Jakob (DCJ) uma desordem cerebral caracterizada por perda de memória e tremores -, com o Alzheimer, descobrindo uma proteína comum no cérebro em sete dos oito pacientes estudados. Em quatro deles, os níveis da proteína beta-amilóide, caíram severamente. Seu estudo foi publicado na revista Nature.
Porém, não há provas de que DCJ desencadeia o acúmulo da proteína. O professor Collinge disse que nenhuma delas haviam desenvolvido a doença de Alzheimer, mas poderiam ter, se tivessem vivido mais tempo. Cerca de 1850 crianças britânicas com problemas de crescimento foram tratadas com hormônios extraídos de tecido cerebral antes do procedimento ser proibido, em 1985. Aproximadamente 1500 ainda estão vivas e Collinge disse que alguns podem desenvolver a doença de Alzheimer. O dado é preocupante, e sugere que as semelhanças entre a proteína beta-amilóide de Alzheimer e a proteína príon que causa DJC significa que devemos questionar se os dois podem se espalhar da mesma forma.
Ele disse que é possível que instrumentos médicos, transfusões de sangue contaminados e tratamentos odontológicos poderiam transmitir a proteína, que 'adere avidamente' a superfícies metálicas, tais como instrumentos cirúrgicos, e não é claro se ela consegue ser destruída por técnicas de esterilização convencionais. Collinge disse que, embora a transmissão por transfusões de sangue seja 'possível', a contaminação cirúrgica é uma ameaça maior. E a odontologia não fica atrás. “Eu acho que seria preciso considerar se certos tipos de tratamento dentários são relevantes e mais pesquisas seria prudente”, disse ele.
No entanto, ele ressaltou que ainda faltam provas sobre a transmissão de Alzheimer e pediu que as pessoas não entrem em pânico. “É importante entender que isso diz respeito a uma situação muito especial, com pessoas que receberam hormônios injetados com extratos de tecido humano. De nenhuma maneira isso sugere que a doença de Alzheimer seja contagiosa. Você não irá contrair por viver com alguém com Alzheimer ou cuidar de alguém com a doença. Ninguém deve atrasar ou repensar a cirurgia com base nesta constatação. É um estudo, não há qualquer ação imediata que precise ser tomada”, explicou.
Richard Kerr acredita que a informação é altamente complexa e precisa ser levada a sério. "Com um estudo tão pequeno, no entanto, são necessárias mais pesquisas para que possamos aprender mais sobre transferência e se os procedimentos de descontaminação existentes são eficazes”, disse ele.
Masud Husain, um professor da Universidade de Oxford de neurologia, descreveu a pesquisa como "bela", mas advertiu que ela deve ser mantida em seu contexto. Doug Brown, da Sociedade do Alzheimer da Inglaterra, disse que os resultados foram "interessantes", mas que contêm "muitas incógnitas". “As injeções de hormônios de crescimento retirados de cérebros humanos foram interrompidas na década de 1980. Não há evidência alguma de que a doença de Alzheimer seja contagiosa ou possa ser transmitida de pessoa para pessoa através de quaisquer procedimentos médicos atuais”, acrescentou.
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