- Recente onda de ataques retoma debate sobre incapacidade do governo iraquiano de proteger minorias
Uma recente onda de assassinatos e intimidação que teve como alvo homossexuais e adolescentes que se vestem com roupas que seguem a moda ocidental está criando medo em meio aos círculos seculares do Iraque. Ao mesmo tempo, há dúvidas sobre a vontade do governo de proteger alguns de seus cidadãos mais vulneráveis.
Muitos dos detalhes do que os jornais iraquianos têm chamado de "assassinatos emo" ainda não foram esclarecisos, mas eles acontecem em um momento estranho para o Iraque. O país vem se preparando para apresentar-se ao mundo como anfitrião de uma cúpula de líderes árabes no final de março, o primeiro grande evento diplomático realizado no país desde a retirada das forças americanas, em dezembro de 2011.
Mas a notícia de que os jovens homens que usam camisetas coladas ao corpo e calça jeans apertadas estão sendo espancados até a morte com blocos de cimento e jogados nas ruas ameaçou ofuscar essa nova concepção do país. A violência oferece um lembrete de que o governo tem sido incapaz de impedir ameaças e agressões contra pequenas seitas religiosas, grupos étnicos e homossexuais.
Uma autoridade de segurança do Ministério do Interior disse que nas últimas duas semanas as autoridades encontraram os corpos de seis jovens cujos crânios haviam sido esmagados. Segundo a agência de notícias Reuters, uma contagem chega a 14 ou mais corpos. Grupos de direitos humanos dizem que mais de 40 jovens foram mortos, mas não forneceram nenhuma evidência para esta alegação.
Defensores dos direitos humanos dizem que as ameaças e violência são destinadas a homens homossexuais e adolescentes que se vestem diferente em uma mistura exclusivamente iraquiana das modas hipster, punk, emo e gótica. Vistos apenas como "emo", eles ganharam espaço nas ruas de Bagdá como um símbolo de uma maior liberdade social, de uma sociedade que começou a florescer depois de anos de guerras urbanas. Mas isso também tem atraído o desprezo e a indignação de alguns conservadores religiosos. A moda é muitas vezes confundida com o homossexualismo.
A veracidade dos relatos de assassinatos não pode ser verificada. Na maioria dos casos, as autoridades iraquianas negam que exista qualquer campanha contra homossexuais ou adolescentes emo. Eles dizem que as histórias são uma fabricação da mídia destinada a criar histeria e humilhação para o Iraque. Mas foi o governo iraquiano que primeiro rotulou os jovens emos como ameaça pública.
No dia 13 de fevereiro, o Ministério do Interior divulgou uma declaração condenando o "fenômeno dos emos" como parte de uma seita satânica. A moda entre os adolescente rebeldes de usar roupas escuras, camisetas com desenhos de crânios e brincos no nariz, segundo o comunicado, faz parte de emblemas do diabo.
O ministério disse que sua polícia social seria enviada para investigar o fenômeno "emo" e acrescentou que suas forças também haviam recebido a autoridade para entrar em todas as escolas de Bagdá e encontrá-los. "Eles têm aprovação oficial para eliminá-los o mais rápido possível, pois a dimensão da questão começou a tomar outro rumo dentro das comunidades", disse o comunicado.
Ibrahim al-Abadi, um porta-voz do Ministério do Interior, disse que a declaração havia sido mal interpretada. Ele disse que os adolescentes emos eram livres para vestir o que quisessem e disse que o governo iria protegê-los.
Mas no decorrer do mês passado, panfletos ameaçadores começaram a aparecer em bairros xiitas em Bagdá, disseram moradores. Um panfleto publicado na internet menciona dezenas de homens homossexuais por nome e apelido. Ele alerta pessoas identificadas como O Japonês Haider, Allawi o Bra, Mohammed Flor e outros a: "Mudem o seu comportamento, parem de ser gays ou encarem as consequências fatais". A autenticidade do panfleto não pôde ser verificada.
Por pelo menos seis anos, os homossexuais foram intimidados e assediados pelas forças de segurança e espancados e mortos por milícias islâmicas reacionárias em áreas extremamente xiitas de Bagdá.
Ali Hili, um ativista homossexuais iraquiano que vive em Londres, disse que 750 iraquianos gays foram mortos nos últimos seis anos, e milhares emigraram ou estão tendo que viver em constante negação.
"Está claro que há uma guerra sobre as minorias sexuais no Iraque", disse ele. "Eles se recusam a admitir. É simplesmente uma vergonha. Eles vão na televisão e dizem que são contra as execuções, mas não estão fazendo nada para impedir que isso continue."
Mustafa, 25, disse que foi demitido na semana passada de uma loja de roupas, porque seu chefe afirmou que suas roupas eram muito ultrajantes. Hussein, 26, disse que ele saiu de casa duas semanas atrás, depois que seus irmãos ameaçaram matá-lo. Hasan, 32, usa um gorro de esqui para esconder seu cabelo comprido.
"O que você vê em mim que é tão errado?", perguntou Mustafa, que disse estar com muito medo de permitir que seu nome completo fosse publicado. "Sou um cara normal. Prefiro morrer do que ter que viver dessa maneira. "
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