29 de dez. de 2011

Semana: origem de expressões com animais - parte 4

  • Conheça a origem de tantas frases que usamos no nosso dia-a-dia

Durante essa semana (segunda à sexta) a MIB vai trazer 6 expressões diárias sobre o tema animais.

Você tem espírito de porco ou estômago de avestruz? Ou já pagou o pato? Alguém já disse que você tem um gênio de cão? Pois essas são apenas algumas das expressões populares ligadas ao reino animal que fazem parte do nosso dia a dia. No entanto, a origem de algumas é desconhecida pela maioria das pessoas. Mas, aqui na MIB você fica sabendo como surgiu cada uma delas.

  • Dar com os burros n'água

A expressão "dar com os burros n'água" é geralmente usada para dizer que alguém se deu mal, falhou em algum plano. Nesse momento, o burro nem está por perto, mas sempre leva a fama.

Segundo o livro O Bode Expiatório, a expressão teria origem em uma história popular que relata uma competição entre dois tropeiros. Sem conhecer o caminho, os homens deveriam carregar, no próprio burro e um fardo até o local combinado. A um animal competia levar um fardo de sal e, a outro, um de algodão.

No percurso, eles depararam com um rio e, na tentativa de atravessá-lo, o sal de um dissolveu-se, enquanto o fardo de algodão do outro ficou encharcado e pesado. E tudo acabou no rio. O desafio acabou e ninguém chegou ao ponto determinado. Apenas "deram com os burros n'água".


  • Espírito de porco

Você é o rei da piada sem graça, um mala sem alça, grosseiro ou estraga-prazer? É aquele que interfere, geralmente, no sentido de criar embaraços ou de agravar situações que já são difíceis? Pois você tem o espírito de porco. 

"A origem vem da má fama do porco, embora injusta, sempre associado à falta de higiene, à sujeira e, inclusive, à impureza, ao pecado e ao demônio, conforme alusões feitas no texto bíblico do Antigo e do Novo Testamento", explica o professor Ari Riboldi, autor do livro O Bode Expiatório.

No período da escravidão, a fama do porco foi reforçada. Os escravos não queriam a tarefa de matar os porcos nas fazendas. A morte era dolorosa: uma facada profunda em direção ao coração, sangue jorrando e gritos do animal que sangra até morrer. "Havia a crença de que o espírito do porco ficava em quem o matava e o atormentava pelo resto dos dias. O matador dos porcos ficava para sempre possuído pelo espírito deles", conta Riboldi.


  • Voltar à vaca fria

A expressão é usada para retornar ao assunto principal em uma conversa, discurso ou discussão que foi interrompida por divagações em temas periféricos. De acordo com o professor Riboldi, a origem está em uma frase muito usada na França "revenouns à nous moutons", ou seja, voltemos aos nossos carneiros, que fazia parte da peça teatral "A farsa do advogado Pathelin", sobre o roubo desses animais.

A peça, considerada a primeira comédia da literatura francesa, data do fim da Idade Média, precisamente do ano de 1460, e não se tem conhecimento do autor. Em determinada cena, o advogado do ladrão faz longas divagações fora da questão principal e o juiz chama a atenção com a frase 'voltemos aos nossos carneiros', fazendo-o retomar o assunto.

Mas voltemos à vaca fria. Na tradução para o português, a expressão acabou transformando os carneiros em vaca. Essa distorção, segundo Riboldi, possivelmente se deve ao fato de que era costume em Portugal servir um prato frio feito com carne de gado antes das refeições, ao qual muitos comensais recusavam.


  • Cavalo dado não se olha os dentes

Você já ganhou um presente e não gostou? Pois saiba que "cavalo dado não se olha os dentes". Não é de bom tom desdenhar ou colocar defeitos em algo que recebemos de presente. Assim, a boa educação manda agradecer e mostrar satisfação, mesmo que o objeto seja insignificante ou inadequado.

Segundo Ari Riboldi, o ditado tem origem nos negócios de venda de cavalos. O dono sempre tenta fazer o animal passar por mais novo, o que representa um preço maior. 

Ocorre que os dentes do cavalo não nascem ao mesmo tempo. Só no quarto ou quinto ano de vida ele completa a arcada dentária. Para quem conhece equinos, não há como esconder a verdade. No entanto, se o cavalo for dado de graça, é melhor não olhar para os dentes, o que seria deselegante da parte de quem recebeu, e com certeza, constrangedor para quem doou - principalmente se o fez para se livrar de um animal velho e de pouca serventia.

"Pensando bem, um presente, por mais desagradável que seja, mesmo assim poderá vir a ter utilidade. Principalmente na hora de ir a um aniversário, quando se esquece de comprar uma lembrancinha. Pode-se passar adiante o presente e fazer uma economia. Com o cuidado, é claro, de que o aniversariante não seja a pessoa que nos brindou com a referida inutilidade", brinca o professor Riboldi.


  • Canto de cisne

A expressão geralmente é usada como metáfora para as últimas realizações de uma pessoa. Mas, o que este simpático e belo animal tem a ver com isso?

Riboldi conta que antigamente se acreditava que o cisne emitia um melodioso canto nos momentos que antecediam a morte. 

Era o último gorjejo da ave. Segundo o professor por semelhança e sentido poético, a expressão designa a derradeira e mais importante obra de um artista. Nela transpareceo seu raro talento, como se tivesse reunido, no último instante da vida, todos os dotes artísticos.


  • Gato pingado

A expressão é geralmente usada para designar pequena quantidade de pessoas. Seguidamente, inclusive, usa-se para dizer que um pequeno público compareceu a um estádio para assistir a determinado jogo.

Contudo, a expressão, segundo o professor Ari Riboldi, estaria vinculada a uma prática de tortura, no Japão, em que se derramava óleo fervente em criminosos ou animais, sendo os gatos as maiores vítimas. Poucas pessoas ficavam assistindo a essa macabra ação, restando apenas os gatos pingados com óleo no local.

A expressão é tão comum que, no Rio de Janeiro, transformou-se em nome de personagem de charge. O cartunista Henfil, falecido em 1988, criou o Gato Pingado, simbolizando a torcida do América, sempre muito reduzida nos estádios.

Semana: origem de expressões com animais - parte 1

Semana: origem de expressões com animais - parte 2

Semana: origem de expressões com animais - parte 3

Semana: origem de expressões com animais - parte 4

Semana: origem de expressões com animais - parte 5


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