14 de dez. de 2011

Não Quero Ser Baiano…

  • Um texto cheio de sentimentos que define o que é que a Bahia tem
Encontrei esse texto no Facebook e achei muito interessante a narrativa desse cara. Conheço muito bem a Bahia e sei do que ela tem de bom. O importante é que ele quis descobrir a cultura de um outro estado e isso que achei válido, pois o Brasil é um só e o preconceito regional é tão babaca que fico sem acreditar nas coisas que leio por aí. Vale muito a pena ler esse texto.

Meu nome é Elilson Cabral, sou de uma pequena cidade no interior do Rio Grande do Sul chamada Capão da Canoa e estava cansado de ouvir falar dos baianos e de sua “Vasta Cultura”. Não suportava mais ouvir nos veículos de comunicação o quanto a Bahia era perfeita, suas praias paradisíacas, seus artistas infindos. Cansei de ouvir: Baiano não nasce, estréia. Olhava pro rosto do povo Rio Grandense e via neles tanto ou mais “cultura” que nos baianos: a Bocha, a Milonga, a Guarânia, o chimarrão e não só as danças, ritmos ou indumentárias, mas toado sentimento que exalava do nosso cotidiano. 

“Cultura”, isso nós tínhamos, e tínhamos mais e melhor. Afinal, o que o mundo via na Bahia que não via em nós? Resolvi então descobri o que é que a Bahia tem. Tirei dois anos da minha vida para conhecer a Bahia e toda sua “Cultura”, para poder mostrar pra o Brasil que existimos e que somos tão bons quantos qualquer outro brasileiro. 

No dia 03 de outubro de 1999 desembarquei no aeroporto Luiz Eduardo Magalhães, e logo de cara, ao contrário de baianas com suas roupas pomposas e suas barracas de acarajé, dei de cara com um taxista mal humorado porque tinham lhe roubado o aparelho celular. Começava então minha árdua luta pra provar que baiano, como qualquer um outro brasileiro, nascia de um ventre e não de traz das cortinas. Alguns quilômetros à frente, já estava tentando arrancar do taxista as informações que pudessem servir de base para minhas teorias, afinal eu precisava preencher uma série de lacunas sobre os baianos e suas “baianices”. 


Seu Ivo, era como se chamava o simpático taxista, falava sem parar. Com uma voz de ritmo pausado e sem pressa para me explicar, ia ele contando-me toda história de Salvador e sua política: – Ah! Essa política é uma “fuleiragem”. É sempre eles nos roubando e a gente votando nos mesmo sacanas que nos roubam. Chamou-me a atenção como ele não media palavras para definir os seus governantes, mas, até então, nada na Bahia me encantara. Nada de magia, nada de beleza. Chegando ao hotel onde ficaria durante esse período fui então programar minhas estratégias e resolvi logo ir ao local mais badalado da Bahia, O Pelourinho. 

Chegando ao bairro, mais uma vez nada de surpresa. Casas antigas, pessoas e cabelos trançados, espichados, alisados, pintados, enfim, coisas da Bahia. Senti um cheiro muito forte de dendê (ao menos eu achava que era dendê), nunca sentira aroma igual. Então avistei numa varanda pequena uma senhora e duas crianças que brincavam de aprender a fazer acarajé. Parei e fiquei olhando tentando colher informações para meu “dossiê”. – Entra, seu moço! Foi o que logo ouvi. 

Meio sem jeito fui logo pra perto do fogão. O cheiro era cada vez mais forte e envolvente. – O senhor quer um? – Claro! Ia perder a oportunidade de comer a iguaria baiana mais famosa e poder dar meu parecer a respeito? Jamais. Dei a primeira mordida e senti-me como se tivesse numa fornalha. Aquilo queimava, ardia e… pasmem ! Era muito gostoso. Tentava parar de comer, mas quanto mais tentava, mais me lambuzada com aquele recheio que eles chamavam de VATAPÁ. Delicioso! 

Enfim a Bahia tem algo de bom, mais é isso que encanta na Bahia? Bem vou encurtar minha história para que vocês leitores dessa revista não fiquem entediados. Passei dois anos viajando por toda Bahia, suas praias paradisíacas, ouvindo e vendo seus artistas, e saboreando de sua cultura e consegui chegar a um denominador comum. Consegui alcançar o tanto procurava: Enfim, os baianos não são melhores que nós gaúchos. Na realidade somo até mais civilizados que eles, porém, uma coisa nesses dois anos me chamou a atenção. Vou dizer-lhes qual foi. Ao voltar para minha linda cidade no interior do Rio Grande do Sul senti-me como se estivesse pousado no meu planeta e logo escrevi um artigo pra uma revista falando da minha “descoberta”. 

Depois de publicada fique de bem comigo mesmo e com minha terra. Agora sim, estou leve. Agora sim? Ainda não! Passei os meus dias tentando entender porque sentia tanta falta da Bahia, porque sentia falta de meu vizinho Dorgival, do rapaz que passava vendendo sacolé, que eles chamam de ‘geladinho’, do João da barraca de água de coco, meu Deus porque esse vazio? Foi então que descobri o que é que a Bahia tem. Sem pretensão de ofender aos meus, digo-lhes que, jamais verei nos sorrisos gaúchos a beleza da sinceridade baiana. Jamais sentirei nas percussões de cá o pulsar dos meninos negros de pés descalços que “oloduavam” sem ter medo da dureza futura. Jamais terei no abraço de meus parentes o calor que sentia ao ser abraçado pela vendedora de cocada de araçá que toda tardinha teimava em insistir pra que eu comprasse mais uma. Jamais sentirei nos territórios daqui, o cheiro de dendê. Puxa, o dendê que nem mesmo sabia o seu cheiro e o reconheci assim, de pronto. 

Queridos conterrâneos, na nação de lá eles andam descalços, mesmo os adultos, e não é por não terem calçados. Eles gostam de viver assim. A chuva não é apenas suprimento e fartura, é diversão. Quantas vezes corri pela chuva com o André, filho de Dona Zete, seguindo o caminho que ela fazia no meio da calçada. Amigos, naquela nação os cabelos são como roupas, as roupas são como armas e as armas são os instrumentos que levam uma multidão para uma batalha que dura 7 dias e que sempre acaba em vitória para ambos os lados. 

Uma cabaça é motivo de festa, um fio de arame motivo pra luta (de capoeira), dois homens juntos é motivo pra samba, pagode, e festa. E, pasmem queridos patrícios, eles trabalham, e muito,! No tabuleiro de cocada, na frente de um volante, com uma baqueta nas mãos, trabalham sim. Não quero ser baiano! Sou gaúcho! Sou brasileiro! Mas nunca imaginei que conheceria um Brasil que jamais pensei achar, exatamente na Bahia, exatamente lá, do outro lado, na outra nação. Não quero me separar deles, não quero perder o direito de dizer que sou brasileiro e que tenho a Bahia como pedaço de mim. 

Não quero ser baiano, mas mesmo assim não consigo não ser. Jamais saberia que seria necessário ir à Bahia para conhecer o Brasil.

Elilson Nunes Cabral Filho Jornalista



. . . .

6 comentários:

Anônimo disse...

Não sou baiana, sou piauiense, mas fiquei muito admirada com este lindo discurso, o Brasil é lindo, há muito mais que se conhecer ainda, e a Bahia é só um pedacinho do que vistes da realidade do povo humilde brasileiro.
é disso que o povo brasileiro está precisando, abrir um pouco mais a cabeça, e conhecer novos horizontes.
Pretendo um dia conhecer os pampas gaúchos e provar o famoso chimarrão! Sou louca também para conhecer um gaúcho....rsrsrs

Anônimo disse...

Sou Espirito-Santense, da cidade de Guarapari. Tenho muita vontade de conhecer ambas as regiões.
O que foi relatado pelo Elilson aposto que foi único na vida dele, e também quero possuir essas experiências maravilhosas. Tolo é, aquele que fica satisfeito com somente aquilo que conhece.

Daniel disse...

Sou mineiro e tenho muito orgulho, moro aqui há anos, morei no RS(excelente lugar bem como o povo)e concordo plenamente com o texto!!!!

Rylton Penha disse...

adorei o seu apanhado, realmente pensamos parecidos, sou maranhense e não tive a oportunidade conhecer a Bahia ou Rio Grande do Sul, mas em breve irei. Obrigado por compartilhar tais informações vitais para um bom conhecimento ainda por vir.

To louco! disse...

Apareceu agora uma dança chamada "KUDURO". Pelo que vi, é muito fácil dançar o "KUDURO", quero ver dançar o "KUMÓLE"!

Valmir disse...

Que texto lindo ...

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